NOTÍCIAS25/11/2024 Ao longo de toda a vida, negros recebem R$ 900 mil a menos que não negros no BrasilMelhores condições no mercado de trabalho, obtidas no período recente, não foram suficientes para reduzir o abismo de renda entre negros e não negros no Brasil. É o que revela boletim divulgado nesta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC), do IBGE, referentes ao 2º trimestre de 2024. Apesar representarem a maioria da população brasileira (55%) e dos trabalhadores ocupados (55%), além de terem remuneração média 40% inferior ao rendimento dos não negros, quando empregados, negros e negras ocupam os piores postos e têm dificuldades maiores de ascenderem profissionalmente. Ainda que tenham ensino superior, a população negra ganha 32% menos que os demais trabalhadores com o mesmo nível de ensino. E, ao longo de todo de toda a vida laboral, entre os 18 e 65 anos, recebem R$ 899 mil menos que os não negros – entre os formados, o valor chega a R$ 1,1 milhão. Só em 2024, se os trabalhadores negros tivessem os mesmos salários e as mesmas taxas de desemprego dos trabalhadores brancos, teriam ganhado R$ 103 bilhões. As mulheres negras são as mais prejudicadas neste cenário: no 2º trimestre de 2024, o rendimento médio delas no país era de R$ 2.392, valor 40% inferior ao dos demais trabalhadores (R$ 4.008). “A Essa distorção, que coloca a mulher e o homem negro em condições desiguais no mundo de trabalho, é um sintoma de que ainda não superamos os efeitos da escravidão”, avalia o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar. “Como o boletim do Dieese destaca, o mercado de trabalho talvez seja um dos meios onde a discriminação racial e a desigualdade sejam mais evidentes”, completa. Principais desafiosO boletim do Dieese observa que os desafios da população negra começam na inserção ao mercado de trabalho. No 2º trimestre deste ano, quase metade dos ocupados negros estava na informalidade: 46% das mulheres e 45% dos homens. No mesmo período, entre os não negros a taxa de informalidade era 34%. Em todas as 10 ocupações com os maiores rendimentos, na fase analisada, a população negra era minoria, representando somente 27% dos profissionais. Ao mesmo tempo, nas 10 ocupações com os piores rendimentos, a realidade é inversa, com negros representando 70% dos profissionais. “Esses números não são coincidência. A presença dos negros é maior em ocupações de menor prestígio e que geram menores rendimentos”, destaca a equipe do Dieese no trabalho, acrescentando em seguida que uma a cada seis mulheres negras ocupadas (15,5%) trabalha como doméstica, com remuneração inferior abaixo da média e, ainda, que as empregadas domésticas negras, sem carteira, recebiam em média R$ 950 por mês, valor R$ 461 abaixo do salário-mínimo de hoje. Avanço depende de políticas públicas direcionadasO Dieese conclui que, apesar de a Lei de Contas, sancionada em 2012, ter contribuído para o aumento da escolaridade entre negros e negras, a diferença de rendimentos entre essa população e a população de não negros permanece a mesma de 12 anos atrás. Entre o 2º trimestre de 2012, período exatamente anterior à Lei de Cotas, e o 2º trimestre de 2024 mais que dobrou (de 3,9% para 9,2%) a proporção de negros e negras com ensino superior completo. Porém, durante todo o período, a desigualdade racial de rendimentos se manteve igual, com a população negra ganhando entre 68% e 70% do rendimento médio dos não negros. O quadro reforça a importância de políticas públicas direcionadas e permanentes para reduzir essa disparidade, avalia Almir Aguiar. “Falamos de políticas públicas voltadas ao combate da redução de renda com foco na população negra. Um exemplo muito positivo é a lei de igualdade salarial entre gêneros (n° 14.611), sancionada no ano passado, e que contém metas para reduzir a desigualdade salarial entre a população em geral e as mulheres negras”, ressalta o secretário de combate ao Racismo da Contraf-CUT. A presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, completa, também com base em dados do Dieese, que, em 2024, 86% das negociações coletivas resultaram em reajustes acima da inflação, com ganho médio de 1,49% nos salários. “Os reajustes, frutos de negociações coletivas, trazem um ganho adicional médio de R$ 250 bilhões por ano para o bolso dos trabalhadores, portanto para a economia, o que significa que as negociações coletivas trazem crescimento para todo o país, porque colocam dinheiro no bolso do trabalhador, que faz a economia crescer, gerar emprego e aumenta a arrecadação. Além disso, cada 1% de ganho real que os sindicatos negociam, significa a geração de 200 mil empregos e 0,15% de crescimento no PIB, por ano”, observa a dirigente. Em relação aos negros e negras no sistema financeiro, Juvandia destaca que a categoria bancária conquistou na Campanha Salarial deste ano avanços sociais fundamentais, com destaque para o comprometimento, por parte dos bancos, de bolsas de estudos para que mulheres negras se profissionalizem em tecnologia da informação (TI), a área que mais cresce no sistema bancário. “Reconhecemos que ainda existe muito o que fazer para a categoria. Levantamentos nossos apontam que as mulheres bancárias recebem cerca de 22% menos que os homens bancários. E, se a mulher for negra, estamos falando de uma remuneração média 78,9% menor do que os colegas brancos do sexo masculino no setor. Por causa desse cenário é que o direito a igualdade de oportunidade, seja entre gêneros ou entre raça, é uma das nossas principais bandeiras permanentes”, conclui. Clique aqui e acesso o boletim especial do Dieese “Dia da Consciência Negra” na íntegra.
Fonte: CONTRAF |
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