NOTÍCIAS08/06/2024 Pedro Serrano analisa a conjuntura nacional e o combate à extrema direita no Brasil e no mundoDepois da aprovação do Regimento, a primeira mesa de trabalho da 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro teve uma análise profunda da conjuntura nacional e do combate à extrema direita feita por Pedro Estevam Serrano, professor de Direito Constitucional e de Teoria do Direito na PUC-SP, graduado e mestre em Direito pela mesma instituição, com pós-doutorado em Teoria Geral do Direito pela Universidade de Lisboa e em Direito Público pela Université Paris Nanterre. Em sua apresentação, Serrano abordou dois elementos fundamentais: as características do pensamento e comportamento da extrema direita e como o estado autoritário se comporta atualmente.
Características e estratégias da extrema direitaSerrano destacou que a caricaturização da extrema direita impede uma compreensão profunda e eficaz de suas estratégias. Ele recomendou a leitura de “Tambores à Distância: Viagem ao centro da extrema direita mundial”, de Joe Mulhall, que detalha como a extrema direita utiliza a mentira como método fundamental. Segundo Serrano, “a linguagem da extrema direita se fundamenta na mentira, tornando difícil identificar suas verdadeiras intenções apenas ouvindo suas propostas.” Ele também mencionou que a extrema direita é diversa e se adapta aos contextos locais, como evidenciado pelo bolsonarismo no Brasil. “Precisamos entender a diversidade dentro da extrema direita para combatê-la efetivamente.”
O Estado autoritário modernoO professor explicou que os estados autoritários modernos utilizam medidas de exceção dentro da democracia para minar direitos de forma gradual, diferentemente do nazifascismo do século XX. Ele destacou que, enquanto o nazifascismo ascendeu ao poder através de uma democracia limitada, os regimes autoritários atuais corroem a democracia por dentro. “Os estados autoritários modernos não precisam mais de ditaduras explícitas; eles utilizam medidas de exceção para minar os direitos dentro de um sistema democrático.”
Impacto e Tradição da Extrema Direita no BrasilSerrano abordou a tradição da extrema direita no Brasil, destacando o integralismo como o momento em que tivemos o maior partido nazista fora da Alemanha, evidenciando essa tradição em nosso país. “O nazifascismo foi uma doença da racionalidade e da ciência que encontrou ressonância no Brasil com o integralismo.” De acordo com ele, embora, no pós-Segunda Guerra Mundial, a humanidade tenha buscado entender e prevenir o retorno do nazifascismo, estabelecendo direitos humanos e fundamentais como pilares inalienáveis, a extensão desses direitos e garantias para uma democracia universal só foi possível com a luta de diversos atores políticos. “A democracia universal não foi uma conquista da burguesia, mas sim uma vitória alcançada através da luta dos trabalhadores, das mulheres sufragistas e dos negros que até hoje lutam por uma democracia mais plena, assim como a comunidade LGBTQIAP+. Foi com luta que conseguimos ampliar os direitos na democracia, construindo uma democracia universal,” afirmou Serrano.
Teologia política e anarcocapitalismoSerrano observou que a extrema direita brasileira atual se baseia em uma teologia política que promove uma teocracia e um anarcocapitalismo extremo. Ele identificou uma teocracia protestante evangélica que admira figuras do Antigo Testamento, como Davi, justificando atos de violência e desonestidade em nome de uma missão divina. “Eles propõem uma ruptura com as instituições modernas para voltar ao passado, usando uma nova linguagem e falseando a realidade,” explicou.
Ameaças futurasSerrano alertou que, embora figuras como Bolsonaro representem uma ameaça atual, o futuro trará um autoritarismo mais sofisticado e perigoso. Esse novo autoritarismo usará uma linguagem mais moderada, mas será igualmente eficaz na erosão dos direitos e da democracia. Ele destacou que, apesar do governo de Lula ser progressista, enfrenta um sistema que continua a implementar medidas de exceção. “Nós não vamos ter mais ditaduras explícitas; o que teremos são novas formas de autoritarismo, com medidas de exceção dentro da democracia,” afirmou Serrano. Ele analisou que a vitória de Lula na presidência não garantiu poder total, pois o legislativo e o judiciário ainda promovem medidas que atacam direitos sociais e trabalhistas. O desafio futuro será enfrentar um autoritarismo mais sofisticado, capaz de corroer a democracia de dentro para fora, utilizando uma linguagem disfarçada. O professor concluiu enfatizando: “Precisamos de uma mobilização organizada e de uma compreensão profunda dos mecanismos ideológicos da extrema direita para enfrentar os desafios atuais e futuros na defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores.” Fonte: CONTRAF |
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