O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), anunciou a manutenção da taxa básica de juros do país, a Selic, em 13,75% ao ano pela 7ª reunião seguida. A decisão já era prevista pelo mercado financeiro e pelo Relatório Focus, divulgado toda semana pelo próprio BC.
“Todos nós estamos perdendo, o país está perdendo com o Banco Central mantendo o país com uma Selic em um patamar tão elevado, que influencia todo o sistema financeiro, inclusive os bancos, e faz com que sejam praticadas taxas de juros abusivas, as mais altas do mundo”, destacou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Há alguns meses as centrais sindicais e movimentos populares vem realizando uma série de manifestações nas ruas e nas redes sociais solicitando a redução dos juros, e desde a semana passada, realizam uma Jornada de mobilização contra a política monetária do Banco Central.
Durante a gestão Campos Neto, que assumiu a presidência da entidade em fevereiro de 2019, a taxa básica de juros passou de 2% (em janeiro de 2021) para 13,75% ao ano (em setembro de 2022) – percentual mantido até o momento.
Neste mesmo período, a taxa média de juros para pessoa física no país foi de 39,4% para 59,7% ao ano, enquanto a taxa de juros média para pessoa jurídica sofreu elevação de 15,2% para 23,9% ao ano, considerando o crédito livre. Ou seja, com a Selic mais alta, as contas pagas por famílias e empresas também ficam ainda mais elevadas.
Também entre 2021 e 2023 o endividamento das famílias aumentou significativamente. Em abril deste ano, a parcela das famílias brasileiras com dívidas (em atraso ou não) chegou a 78,3%, como mostra o estudo “Desempenho dos bancos 2022”, elaborado pelo Dieese. Dados do próprio Banco Central indicam que a utilização do cartão de crédito, cujas taxas de juros do rotativo estão acima dos 400% ao ano, estão entre os fatores responsáveis pelo aumento do endividamento.
“Famílias endividadas consomem menos. Pouco consumo reduz a produção, porque as empresas não estão vendendo. Se as empresas não estão vendendo e estão com estoques parados, elas demitem. Consequentemente a renda circulando cai e a economia não avança”, explicou Juvandia Moreira.
Campos Neto, o político
Em suas manifestações para justificar a Selic em 13,75% ao ano, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que as decisões do Copom são técnicas e não políticas. Entretanto, é contestado por diversas entidades civis organizadas, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que diz não haver cenários de risco de inflação no país para manter a taxa básica de juros no patamar atual.
“Vamos lembrar que Roberto Campos Neto foi votar, na eleição presidencial de 2019, com a camisa da seleção brasileira, marca registrada dos apoiadores de Bolsonaro, que colocou ele à frente do Banco Central. Ele também participou de grupos bolsonaristas no WhatsApp durante as eleições, deixando claro seu posicionamento. Então, quando vemos que, mesmo diante de um quadro favorável para redução da Selic, o Copom mantém essa taxa altíssima, a decisão da entidade não está sendo técnica, mas sim política, porque prejudica as decisões que o atual governo federal vem tomando para aquecer a economia”, destacou Juvandia. “Nós vamos continuar com a jornada de mobilização contra os juros altos, enquanto o BC de Roberto Campos Neto, não mudar a política monetária que está em curso e que, claramente, boicota o país e o governo Lula”, completou.
Selic como dreno financeiro
Um artigo divulgado em maio pelo professor e renomado economista brasileiro, Ladislau Dowbor, revelou que cerca de R$ 700 bilhões (o equivalente a cerca de 7% do PIB) são drenados anualmente dos cofres do governo federal com o pagamento de juros da dívida pública.
Dowbor explica que, quando o BC eleva a taxa básica de juros (Selic) para 13,75%, “este valor será pago pelo governo aos detentores privados dos títulos da dívida pública, basicamente os 10% mais ricos da sociedade, usando os impostos” pagos por toda a população. “Ou seja, esses impostos, em vez de financiarem educação, saúde ou infraestrutura, vão para os grandes grupos financeiros, que aqui chamamos de ‘mercados'”, observou o professor no artigo, completando que o Estado brasileiro não se endividou, por exemplo, na construção de escolas públicas ou com o Bolsa família, mas com o pagamento da dívida pública, que aumentou 82% em decorrência dos juros acumulados.
Fonte: CONTRAF