UNI Américas debate momento político e sindical no continente
A 5ª Conferência Temática da UNI Américas, que acabou nesta quinta-feira (30), em Fortaleza, teve a presença de diversos políticos do campo progressistas e lideranças sindicais latino-americanas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), uma das anfitriãs do evento, participou com uma delegação de cerca de 100 representantes.
Para a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, “a UNI Américas unifica nossas bandeiras. Aqui aprovamos uma moção de apoio às bancárias, vítimas de assédio na Caixa e pelo afastamento de Pedro Guimarães, por exemplo. Também tivemos a oportunidade de debater as políticas que defendemos para os trabalhadores, com o lema ‘Construindo nosso futuro’. Discutimos a América Latina, na busca de um continente democrático, com direitos e movimento sindical forte e bem organizado”.
A presidenta da UNI Finanças mundial e secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Rita Berlofa, disse que “é um orgulho para os trabalhadores terem um sindicato global como a UNI, que fortalece o papel da luta sindical no mundo todo”. Ela avaliou que “a Conferência foi maravilhosa, com questões que permeiam a luta dos trabalhadores no mundo todo, com discussões sobre a importância dos governos progressistas no nosso continente, pois sem isso nossos direitos são retirados e os sindicatos atacados”.
Ao longo das atividades, a 5ª Conferência Temática teve a presença de lideranças sindicais de todo continente. Em sua participação, Juvandia Moreira, destacou que o retrocesso que vem se solidificando no Brasil, desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, em 2016, faz parte de um projeto neoliberal, acentuado no atual governo, produzindo uma aguda política contra o movimento sindical.
“Os bancos públicos foram atacados, limitaram os investimentos, colocaram o teto de gastos. Mas nós queremos avançar em uma reforma sindical para fortalecer o movimento dos trabalhadores e trabalhadoras, somos resistência contra um governo fascista, homofóbico e misógino. A gente quer estar no movimento sindical para fazer a diferença”, afirmou.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, afirmou que toda forma de violência deve ser abolida na sociedade, como o assédio moral e sexual. “Todos nós temos que buscar a construção do emprego do futuro, o sindicato do futuro, que consiga despertar nos jovens o sentimento de inclusão, e também precisamos mostrar nossa indignação”.
Presidente da UGT Brasil, Ricardo Patah, agradeceu a solidariedade internacional quando o ex-presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, esteve preso: “Agradeço demais ao sindicalismo que criou comitês de Lula Livre pelo mundo. Essa solidariedade internacional é muito importante para nós do Brasil”. Cícero Pereira da Silva, da CSA, destacou a importância do sindicalismo sociopolítico. Para ele, “o sindicato precisa estar de portas abertas para os trabalhadores. Os sindicalistas têm que ter lado”.
A vice-presidenta executiva da SEIU (importante central sindical dos Estados Unidos e Canadá), Rocí Sáenz, enfatizou a importância da liberdade sindical. “Queremos justiça racial e econômica, igualdade de direitos; que todos os trabalhadores tenham direito a um sindicato em todas as partes do mundo e que possam ser respeitados, protegidos, pagos como trabalhadores essenciais que já são. Tudo isso que temos conseguido na política foi porque conseguimos escolher líderes com esta agenda, mas sabemos que ainda tem muita coisa a fazer”, analisou.
O presidente de UNI Américas, Héctor Daer, destacou o trabalho da entidade e afirmou que “é preciso aprofundar os direitos sindicais, a liberdade sindical” e “aprofundar o realinhamento na América Latina, para fortalecer as organizações dos trabalhadores”. Para ele, só assim será possível “debater e decidir a nova ordem mundial por um mundo mais justo”.
Mundo político
A fala do presidente da Argentina, Alberto Fernández, aclamada pelo plenário, foi o ponto alto do evento. Ele fez uma análise dos estragos causados pela pandemia da Covid-19. “As primeiras potências do mundo se levantaram em segundos e vimos o tamanho dessa desigualdade. A Pandemia mostrou que precisamos de um Estado presente e que iguale as oportunidades”, afirmou.
“Chegou a hora de elevar a nossa voz para construir uma sociedade justa, de progresso social, igualitária”, disse o presidente argentino. “A América Latina é o continente mais desigual do mundo, onde há a maior distância entre ricos e pobres. Na realidade, o problema não é a pobreza em si, mas o modelo econômico que gera a pobreza”, completou.
O deputado federal José Guimarães (PT-CE), analisou os retrocessos do Brasil com o governo Bolsonaro. “O Brasil está desmoralizado perante o mundo. A morte do Dom e Bruno escancara este governo de violências. Precisamos barrar o fascismo, construindo frentes que tenham compromisso com a democracia”, afirmou.
A ministra do Trabalho da Espanha, Yolanda Días, defendeu o direito de todos a uma vida plena. “O futuro da luta dos trabalhadores é feminista, com tempo de trabalho sustentável”, disse. Ponderando, ainda, que é “preciso quebrar o ciclo da precarização e falar de saúde mental”. Para a ministra “os sindicatos são a vacina contra o autoritarismo e a desigualdade”.
Outra participação de destaque foi da presidenta da Constituinte do Chile, Maria Elisa Quinteros. Ela falou sobre o processo de elaboração da nova Constituição do país, que ainda está em curso. “Vivemos um processo muito intenso, mas, apesar das barreiras, conseguimos chegar à frente no processo democrático”. Ela explicou que “com a nova constituição, os chilenos passaram “a ter direito de greve e cada sindicato pôde construir seus próprios objetivos”.
A conjuntura latino-americana foi o tema da secretária do trabalho do México, Luiza Alcalda. “Desde o início deste século chegou ao nosso continente uma onda de governos que conseguiram tirar milhões de latinos da pobreza”, lembrou. Sobre a nova onda política progressista no continente, ela celebrou e disse que “estamos vivendo momentos extraordinários” na região. Ela destacou, ainda, que a “tarefa do movimento sindical” é “democratizar, acabar com a lógica da imposição, a partir dos governos e das empresas”. “Temos que reconstruir uma relação com os governos para retratar as decisões da vida pública, para que possamos nos envolver nas decisões do presente e do futuro. O sindicalismo tem que ser inovador!”, pontuou.
UNI Global Union
A secretária geral da UNI Global Union, Christy Hoffman, falou sobre a onda progressista que tem tomado as Américas. Ela destacou que todos devem “militar pelos novos modelos econômicos, para redistribuir as riquezas e chegar a uma nova ordem global”. Para a dirigente, o movimento sindical deve assumir seu papel na política. “Precisamos ter sindicatos mais fortes, ajudar nossos aliados políticos, alavancar os direitos e ajudar a eleger políticos progressistas. A democracia não existe sem os sindicatos”, finalizou.
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