O assassinato do congolês Moïse Kabagambe a pauladas na Barra da Tijuca; a morte a tiros de Durval Teófilo Filho, em São Gonçalo, que implorou para que o seu vizinho militar não atirasse contra ele; a abordagem racista num shopping denunciada pelo dentista Igor Palhano, de 30 anos, filho do humorista Mussum; entre tantos outros casos que, com frequência estampam a mídia brasileira, não são casos isolados e precisam ser discutidos pela sociedade todos os dias.
No entanto, o Dia Internacional contra a Discriminação Racial, nesta segunda-feira, 21 de março, é oportunidade para se refletir profundamente sobre o tema. “Temos que nos indignar contra a banalização da morte e o extermínio de negros e pobres”, convoca Almir Aguiar, secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
A segregação também é forte no mercado de trabalho. Mesmo quando têm mais qualificação profissional e nível de escolaridade, negros e negras recebem salários inferiores e são os mais afetados pelo desemprego. Pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Guetto revelou que quase metade das pessoas negras “não se sentem pertencentes ao seu ambiente de trabalho”, por sofrerem algum tipo de discriminação em sua atividade profissional.
Em outra pesquisa, feita em fevereiro deste ano pela empresa digital de colocação profissional Catho, 58% dos profissionais negros disseram não ter as mesmas oportunidades que os brancos. Esse sentimento pode ser conferido dentro da própria categoria dos bancários: dos cerca de 450 mil trabalhadores no setor, segundo o IBGE, apenas 24,7% são negros. “E também sabemos que nas demissões dos últimos anos, muitos negros e negras foram desligados; o sistema financeiro tem sim uma política discriminatória e a cor da pele é um dificultador na ascensão profissional”, denuncia Almir.
O dia contra racismo
O Dia Internacional contra a Discriminação Racial foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1966, em memória ao “Massacre de Shaperville”, ocorrido em 21 de março de 1960, em Johanesburgo, durante o regime Apartheid na África do Sul. Nessa data, cerca de 20 mil pessoas protestavam contra a “lei do passe”, que obrigava os negros a andar com identificações que limitavam os locais da cidade por onde poderiam circular. Tropas do regime baseado na discriminação racial atacaram os manifestantes e promoveram uma chacina: 69 pessoas foram assassinadas e 186, feridas.
“Esta é uma data para reflexão para que possamos, negros e brancos, lutar para banir o preconceito e o racismo. Esta mudança depende de nós, inclusive no voto das eleições de 2022, buscando representações de trabalhadores, mulheres, indígenas, negros e negras e LGBTQIA+. É a oportunidade de um recomeço da luta pela emancipação popular, igualdade de oportunidades e justiça social. Que nossa voz, ação, voto e participação sejam a voz contra toda a forma de opressão, intolerância e discriminação”, reforça Almir, que também é militante do Movimento Negro Unificado (MNU).
Fonte: CONTRAF