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28/09/2021

Bolsonaro governa para 1% mais rico; maioria não tem o que comemorar

São Paulo – Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro, juntamente com seus ministros, deve realizar uma série de inaugurações de obras para marcar os mil dias do seu governo. Trata-se de uma tentativa de emplacar uma “agenda positiva”, buscando estancar a queda de popularidade, bastante evidente nas últimas pesquisas. Mas, de acordo com a pós-doutora em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB), pesquisadora no campo de Mídia, Política e Gênero, Denise Mantovani, a maioria da população não tem o que comemorar.

Denise avalia que apenas os grandes grupos financeiros e empresariais registraram ganhos nesse período. O restante da população estaria à mercê de um governo de destruição nas mais diversas áreas. São esses grupos, somados a oligarquias regionais representadas no Centrão, que sustentam Bolsonaro no poder, que também se apoia numa reduzida fração do eleitorado mais radical.

Ainda assim, essa mesma elite busca uma alternativa com a chamada “terceira via”. Essa estratégia baseia-se numa “falsa simetria” entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, Bolsonaro ultrapassa os limites do regime democrático. Caso essa alternativa não se viabilize, Denise acredita que a elite deve permanecer ao lado do atual presidente nas próximas eleições.

“Nesses mil dias, quem pode comemorar são os grandes grupos econômicos, grandes empresários, aquele 1% que de fato é o grupo social e econômico que mais enriqueceu nesse período. Hoje, detém cerca de 50% da renda e produção da riqueza no Brasil, enquanto todo o restante da população está perdendo”, afirmou a pesquisadora, em entrevista a Glauco Faria, para oJornal Brasil Atual, nesta terça-feira (28).

Destruição nacional

Para marcar a tônica desses mil dias de governo, Denise resgata declarações de Bolsonaro, em 2019, durante jantar na embaixada do Brasil em Washington. Na ocasião, em companhia do escritor Olavo de Carvalho e do ideólogo da extrema-direita estadunidense Steve Bannon, Bolsonaro afirmou que sua missão seria “descontruir” e “desfazer muita coisa”.

“Certamente é um governante que está preocupado em usar do poder para se beneficiar. E não tem lidado com as questões ligadas à governança pública. A sociedade, a população como um todo, segue sem governo. Então não tem o que mostrar. De fato, o que vemos é apenas um governo da destruição, como ele próprio disse naquele famoso jantar nos Estados Unidos. É isso que ele tem feito. Não tem outra coisa para mostrar”, destacou.

Dentre os elementos que compõem esse cenário de destruição, segundo a pesquisadora, estão a alta do desemprego e da inflação, a devastação ambiental, o desmantelamento das políticas de educação e pesquisa, além da série de crimes cometidos durante a pandemia. Para ela, em vez de governar, a principal preocupação de Bolsonaro é evitar a sua prisão, bem como a dos próprios filhos.

Falsa simetria entre Bolsonaro e Lula

Para Denise, os eventuais candidatos da chamada terceira via aparecem como alternativa ao próprio Bolsonaro. Contudo, esse esforço em achar um candidato é sustentado por essa mesma elite que se beneficiou com a destruição provocada pelo governo atual. Ainda assim, além de incomodados com os “maus modos” do presidente, temem que ele não consiga fazer frente a Lula, favorito nas eleições de 2022.

“A terceira via tenta se constituir a partir dessa ideia binária, de que eu não sou nem A nem B. Quando, no fundo, essa terceira via representa a possível substituição de Bolsonaro. Então essas ideias elitistas – de manutenção de uma sociedade onde a distribuição não está acontecendo, onde existe a destruição do patrimônio público, a venda de estatais e privatização de sistemas e serviços essenciais – continuam ali, postas na terceira via. É a mesma elite liberal que está tentado ocupar esse espaço.”

Assista à entrevista

Fonte: REDE BRASIL ATUAL

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