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06/06/2014

Redes sindicais de bancos internacionais debatem crescimento e igualdade

Um total de 90 dirigentes sindicais de 14 países participou nesta quinta-feira (5), em Lima, capital do Peru, da abertura da 10ª Reunião Conjunta das Redes Sindicais de Bancos Internacionais. O evento é promovido pela UNI Américas Finanças e Comitê de Finanças da Coordenadoria de Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), com o apoio de sindicatos peruanos.

Estiveram presentes representantes de trabalhadores do Santander, BBVA, HSBC, Itaú, Banco do Brasil e Scotiabank do Brasil, Peru, Uruguai, Argentina, Paraguai, Chile, Colômbia, México, Costa Rica, Jamaica, Trinidad y Tobago, Antà­gua e Barbados, além da Espanha. O encontro termina nesta sexta (6).

Crescimento com inclusão social

Ao falar na mesa de abertura, o presidente da Contraf-CUT e da UNI Américas Finanças, Carlos Cordeiro, lembrou os 50 anos do golpe militar de 1964 no Brasil e aproveitou para pedir um minuto de silêncio em memória de todos os que tombaram nas Américas durante as ditaduras sangrentas. "Precisamos recordar para não nos esquecermos disso jamais", frisou.

O dirigente sindical reafirmou a necessidade de transformar crescimento econômico em desenvolvimento com inclusão social. Ele criticou a enorme concentração de renda que continua a existir. "No Brasil tem diretor de banco que ganha 190 vezes mais do que um caixa", denunciou. "O continente segue muito desigual", apontou.

Ele também defendeu emprego decente. "Não podemos permitir que o trabalhador perca o seu emprego", disse ao lembrar os cortes de empregos dos maiores bancos brasileiros no primeiro trimestre deste ano. "Também não podemos permitir o assédio moral que adoece trabalhadores", destacou lembrando também a insegurança que matou cerca de 70 pessoas no ano passado em assaltos envolvendo bancos.

"Nada justifica a enorme diferença entre a taxa de juros que o banco pratica na Europa e a que cobra na América Latina", ressaltou Cordeiro. "Não queremos exclusão nos bancos, pois hoje os pobres são empurrados para correspondentes enquanto os ricos ganham atendimento especial", acrescentou.

Transmissão de cargo

Após o pronunciamento, Cordeiro transmitiu o cargo de presidente da UNI Américas Finanças para Sérgio Palazzo, secretário-geral da Asociación Bancaria de Argentina (La Bancaria), conforme acordo feito durante a realização do último congresso do sindicato global. O dirigente da Contraf-CUT fez um rápido balanço da sua gestão.

"Fortalecemos as redes sindicais dos bancos internacionais, criadas na gestão do companheiro Vagner Freitas. Elas passaram a negociar com os bancos e conseguimos firmar dois acordos marcos globais: um com o BB e outro com o Itaú, garantindo direitos básicos para os trabalhadores em todos os países das Américas onde esses bancos atuam. Participamos de negociações em vários países, como Brasil, Argentina, Colômbia, Chile e Paraguai, defendendo respeito e dignidade. Abrimos caminho para a criação em breve de um sindicato de bancários nos Estados Unidos", destacou Cordeiro.

Palazzo recebeu o cargo e aproveitou para dizer que "Cordeiro fez uma excelente gestão na presidência da UNI Américas Finanças". O brasileiro agora passou a ocupar o cargo de vice-presidente.

Regulamentação do sistema financeiro

O secretário-geral da UNI Global Union, Phillip Jennings, fez uma palestra sobre a situação global e os desafios para os trabalhadores no mundo. Ele relatou os esforços feitos pela entidade para "romper barreiras" e organizar os sindicatos do setor financeiro, comércio e serviços em diversos países.

"Ainda estamos enfrentando a crise financeira e nenhuma economia se recuperou", disse o dirigente do sindicato global. Ele criticou a política de austeridade na Espanha, Grécia e outros países, alertando que "as pessoas em todo o planeta não confiam no sistema financeiro".

"A experiência neoliberal foi um assalto aos direitos do trabalho e à negociação coletiva", denunciou Jennings. "Os contratos sociais foram destruídos pelo setor financeiro e precisam ser recuperados", defendeu. "A desigualdade é ruim para a economia", ressaltou. "É hora de se levantar", salientou.

O chefe mundial da UNI Finanças, Márcio Monzane, fez uma exposição sobre a situação do setor financeiro em nà­vel global, apontando que a crise mostrou a necessidade de mudar o modelo, com regulamentação, controle e fiscalização. "Havia uma falsa verdade de que o mercado podia se regular", disse.

Márcio apontou as consequências para os trabalhadores, salientando impacto no emprego. "Cerca de 300 mil bancários foram despedidos após a crise financeira", disse. Ele alertou também uma "crise humana" diante da perda do emprego, do incremento da terceirização, do aumento da pressão no trabalho, do crescimento dos problemas de saúde e da diminuição da negociação coletiva.

"Ainda não temos um modelo para enfrentar a crise financeira", destacou Márcio, salientando que nos Estados Unidos os bancos não cumpriram os acordos de Basiléia 1 e 2 e que aumentou a concentração do setor financeiro no mundo.

"Dentro da negociação coletiva, deve ser discutido o processo de reestruturação", salientou o representante da UNI Finanças. "Os bancos têm que discutir a venda de produtos e a remuneração dos executivos", defendeu. "Queremos um sistema financeiro sustentável que apoie a economia real", frisou.

Redes sindicais

É tarde, as redes sindicais se reuniram para trocar experiências, analisar a situação dos bancos internacionais nos países onde atuam e construir uma nova agenda de lutas conjuntas para o próximo perí­odo. Os debates continuam na manhã desta sexta-feira (6).

E à noite os participantes ainda prestigiaram a solenidade de fundação da Federación de Trabajadores y Trabajadoras del Sector Banca, Finanzas y Afines del Perú (Fetbanf), formada por seis sindicatos de bancários de diferentes bancos peruanos. Houve posse da primeira diretoria e a filiação à UNI Global Union.


Fonte: Contraf-CUT

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